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O preço de um “elefante branco” (parte 2)

Ilustração de Dri Matsuda: drimatsuda.blogspot.com

Há pouco mais de um ano, eu disse aqui no Blog que a expressão “Parceria Público-Privada” seria muito citada nos anos que antecedem a Copa 2014. Pois eu estava errado.

A expressão “Elefante Branco” tem sido muito mais popular!

Acabo de ler mais uma reportagem que aborda o tema: “Copa do Mundo deixará ‘elefantes brancos’, diz pesquisador” (da repórter Isabela Vieira, publicado no site da Agência Brasil de Comunicação em 24/03/2010), que reproduzo a baixo na íntegra.

Estranhamente, não foram a falta de PPPs ou a inviabilidade de sustentar as obras após a Copa que reabriram a discussão sobre diminuição do número de cidades sedes, mas sim o atraso destas obras.

Segundo reportagem do site d‘O Estado de S. Paulo (Ministro diz que cidades precisam apressar obras para Copa-2014“, de Pedro Fonseca e Rodrigo Viga Gaier, publicada em 25/03/2010) o Ministro dos Esportes disse durante um evento que: “A Copa acontece em 8 cidades (no mínimo). Doze foi um apelo que o Brasil fez para que o país inteiro pudesse participar. É preciso apertar o passo, cumprir os compromissos com a Fifa para que a Copa seja um sucesso”. Disse ainda que “o comitê local da Fifa já chamou a atenção das cidades e 3 de maio é um novo prazo para avaliarmos os estádios.”

Ainda segundo a reportagem do Estadão, “ao ser questionado diretamente o que poderia acontecer com as cidades que não cumprissem os prazos fixados com a Fifa, o ministro disse que ‘era melhor deixar para falar em 4 de maio’.”

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Enfim, a viabilidade econômica dos projetos não é um tema que tem sido tratado pelos envolvidos na organização da Copa. Aparentemente o simples fato de a FIFA ter aceitado a candidatura de uma cidade para sediar algumas partidas tira completamente a responsabilidade do poder público local de analisar a viabilidade e o legado de seus investimentos em “obras sem função social, com elevado custo de manutenção”.

Mas, para vocês que, como eu, gostam de perder tempo lendo sobre esse tipo de coisa, segue o texto a que me referi no início deste post:

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Copa do Mundo deixará “elefantes brancos”, diz pesquisador

Rio de Janeiro – O Brasil enfrentará desafios estruturais para a realização da Copa do Mundo de 2014. De acordo com o geógrafo da Universidade Federal Fluminense (UFF), Christopher Gaffney, o país caminha para a construção de elefantes brancos e demonstra falta de planejamento e de transparência nos gastos públicos. As informações constam de estudo apresentado hoje (23), durante o Fórum Social Urbano (FSU).

Segundo a pesquisa, não há controle nos gastos com a construção ou a recuperação de estádios das 12 cidades que receberão as competições. Ainda de acordo com o pesquisador, como o governo não conseguiu apoio da iniciativa privada para construção das arenas, que devem ter capacidade para 50 mil pessoas, fará aportes por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que destina R$ 4,8 bilhões para Copa do Mundo, sendo R$ 400 mil para cada município.

Gaffney disse também que a aplicação de dinheiro não conta com mecanismos de acompanhamento social e os orçamentos para reforma de três arenas foram extrapolados em menos de nove meses. Como exemplo, a pesquisa cita o Maracanã, no Rio, cujo orçamento inicial passou de R$ 500 milhões para R$ 600 milhões de 2009 para 2010, o Estádio do Morumbi, em São Paulo, que passou de R$ 136 milhões para R$ 240 milhões e do Estádio da Fonte Nova, em Salvador, de R$ 400 milhões para R$ 591 milhões.

O estudo questiona ainda o retorno dos investimentos governamentais na Copa, que também incluem infraestrutura urbana, transporte e benefícios fiscais. Gaffney estima que apenas para o retorno dos gastos com os estádios a ocupação das arenas deverá ser quadruplicada em relação a atual, embora os torcedores devam pagar mais pelos ingressos. Os preços passarão de R$ 20 e R$ 30 para R$ 45 e R$ 60.

Vai ter que arranjar torcedor disposto a pagar o dobro. Isso porque têm cidades do Norte e Nordeste que não tem tradição futebolística para lotar os estádios, como foi dito aqui e isso vai ser difícil depois da Copa. Ou seja, esses estádios devem acabar se tornando uma coisa que a gente conhece bem: os elefantes brancos”, afirmou o geógrafo, em referência a obras sem função social, com elevado custo de manutenção.

A pesquisa da UFF também chama atenção para o deslocamento dos torcedores no país durante a competição e alerta para o desafio da implementação de melhorias no transporte. “Não há uma estrutura ferroviária ligando o país e o próprio presidente da CBF reconheceu que o problema para a Copa são os aeroportos”, afirmou. Segundo o geógrafo, os R$ 6 bilhões anunciados pelo governo federal para os aeroportos são insuficientes.

O Bigode começa a se desenhar

Não, não estou falando do curioso movimento da torcida portuguesa para a Copa de 2010 .

Estou falando do outro sentido da palavra “bigode“. Segundo o dicionário Houaiss, além de referir-se à “parte da barba que cresce sobre o lábio superior“, bigode também significa o “ato de pregar uma peça; logro, engano“, dando origem ao verbo “bigodear”.

As obras dos estádios já estão atrasadas (isso para não falar em infraestrutura das sedes). Segundo o site da ESPN Brasil, (em: “Sete dos 12 estádios da Copa-2014 não cumprirão prrazo Fifa’ para obras“, publicado em 14/02/2010), o cronograma da FIFA previa o início das obras em 1º de março de 2010. Pois na data da publicação citada, os estádios de Natal, Recife e Fortaleza sequer concluíram suas licitações para conhecer quem irá construí-los. Ao que a matéria indica, os planos dessas sedes já eram o de descumprir o cronograma desde o início, pois as datas de conclusão dos processos de licitação foram marcados para o final do mês de março!

Paulo Calçade, da mesma ESPN Brasil, lembra que “Com a Copa das Confederações em 2013, as obras deverão estar prontas até o final de 2012 […] Os cartolas do futebol e da política têm, portanto, 34 meses para construir um Brasil inteiramente novo. Pelo menos essa foi a promessa feita quando o País foi escolhido para a Copa”. (do post Com muito seminário e pouca obra, Mundial no Brasil ainda não saiu do papel“, publicado no site da ESPN Brasil em 11/02/2010).

Calçade conclui dizendo: “Quanto mais tarde começarmos, mais caro vai ficar. Já percebeu, né?”

“Percebeu o que?” você está se perguntando. Algo que todos que viveram o pesadelo do Pan 2007 vêm especulando. Vitor Birner explica: “Pense como será quando dispensarem as licitações e aprovarem o aumento das verbas públicas em regime de urgência  por causa dos atrasos nas obras“.  (em: Já????????? – Copa no Brasil custa mais que o dobro da africana” 17/02/2010).

2010: ANO ELEITORAL

Mas pra que a pressa? Ainda estamos em março de 2010! Segundo o Ministro dos Esportes Orlando Silva Jr. (PCdoB-SP) (em declaração publicada na FolhaOnline em 05/03/2010 “Governo teme que eleição trave obras da Copa-2014“) “Temos uma data fatal para assinaturas de contratos e convênios, de modo que seja possível o repasse de recursos para as obras de infraestrutura de 2014. Quem não contratar até lá só poderá contratar em 2011″. Esta data é dia 03/06/2010!

(Obs.: Apesar de eu ter encontrado a constatação do Ministro em vários meios de comunicação, ainda não encontrei notícias sobre as atitudes que ele, em seu papel de Ministro dos Esportes, vem tomando para corrigir os atrasos das sedes).

Portanto, as sedes mais atrasadas correm o risco de perder todo o segundo semestre de 2010, restando apenas o biênio 2011/12 para desenvolver toda a infraestrutura que já se sabe necessária desde 2004, quando o Brasil se apresentou como único (e certo) candidato para sediar o torneio de 2014. Desde 2007, quando o Brasil foi formalmente eleito a sede da Copa. E desde 31/05/2009, quando as sedes foram formalmente anunciadas.

Será que teremos o caso de uma licitação em regime de urgência, prevista no inciso IV do artigo 24 da Lei 8.666/93?

Ou será que teremos aquilo que a doutrina jurídica classifica de “emergência fabricada“?

Os anos continuam passando e a Copa 2014 continua sendo tema recorrente em discursos, objeto de propaganda e até ameaças de políticos*. Mas obra e projetos de infraestrutura para o país (o famigerado “legado”) não deram as caras ainda…

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*Comentarei brevemente pois não quero perder um post inteiro falando sobre a atitude do Governador do RJ, Sérgio Cabral (PMDB-RJ), que chorou ao informar que, com a aprovação da chamada “emenda Ibsen” e a conseqüente alteração na distribuição dos royaltes do petróleo explorado no Brasil, privaria o Estado do RJ de uma receita de R$7 bi por ano, inviabilizando a preparação da Capital do Estado para receber os jogos da Copa 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. (conforme reporta o site da ESPN Brasil em: “VíDEO: Governador do Rio diz que Emenda Ibsen inviabiliza Copa de 2014 e Jogos de 2016” de 13/03/2010).

Se é essa a realidade das finanças públicas do RJ, talvez o Governador devesse rever a finalidade que vem dando às verbas públicas. Como demonstra o economista Luis Nassif (em sua coluna A defesa dos royalties do petróleo” de 19/03/2010) a finalidade desta verba seria sanar “a necessidade de estados e municípios realizarem investimentos para compensar os estragos e para suportar a indústria [do petróleo]”, e não a de promover eventos esportivos.

O preço de um “elefante branco”

Portugal abrigou a edição de 2004 da Eurocopa, mesmo sob os protestos de parte da população, preocupada com o custo que tal evento lhes traria. Cinco anos e meio depois, o tema ainda é discutido por lá, pois como se suspeitava, a conta a pagar é muito alta.

Lá, a escolha dos 10 estádios deu-se priorizando sua distribuição pelo território português e o peso político de algumas cidades. Esqueceram de levar em conta a viabilidade de manutenção destes projetos a longo prazo.

Tais projetos pretendiam pagar a manutenção realizando outros grandes eventos nestes estádios após o torneio (como podemos perceber no site oficial do estádio municipal de Aveiro). O que os projetos provavelmente não previam é QUEM iria trazer um evento do porte de um estádio de futebol para a sua cidade. Afinal de contas, no caso de Portugal, os grandes eventos costumam ir para as maiores cidades do país: Lisboa e Porto (que também reformaram seus estádios para receber a Euro’04).

Da mesma forma, os grandes eventos costumam procurar os centros financeiros e populacionais do Brasil (especialmente São Paulo e Rio de Janeiro). Será que a mera existência de um estádio moderno levará estes eventos para todas as outras 10 cidades que receberão a Copa?

Em Portugal isso não aconteceu, e a conta da manutenção destes estádios está tornando sua mera existência inviável. Por este motivo, o ex-ministro da economia de Portugal, Augusto Mateus, está sugerindo a demolição de 5 dos 10 estádios usados na Euro’04. Segundo ele: É muito complicado lidar com as dívidas de algo que não cria riqueza nem representa um bem público“. (Conforme reporta o site Máquina do Esporte na reportagem “Portugal cogita demolir estádios da Euro“, de 19/01/2010).

Estádio de Aveiro é um dos mais inviáveis em Portugal. Foto disponível em: http://www.ema.pt/fotografia2.php?id=4&cat2=Panorâmicas Gerais do Estádio

Reproduzo a seguir o texto “Alerta para 2014! A manada da Euro-04 assola Portugal“, de Erich Beting (publicado em seu Blog em 19/10/2010) que trata sobre o mesmo tema:

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Em tempos de pré-Copa do Mundo brasileira, seria interessante que o digníssimo ministro do Esporte, Orlando Silva Jr., passasse a ler o noticiário de Portugal.

Cinco anos e meio após a Eurocopa que revolucionou alguns velhos estádios portugueses, dando aparentemente novo fôlego ao futebol na terrinha, a esfera pública está atolada em dívidas e com dificuldade para manter em dia o pagamento da construção dessas magníficas arenas que vivenciaram cerca de um mês de festa.

Por ano são mais de 13 milhões de euros que o governo gasta para manter de pé os elefantes coloridos, porque muitos deles já têm cadeiras multicores para dar a falsa impressão de que o estádio está cheio.

A situação menos pior é o estádio de Braga. O clube, que lidera o Campeonato Português, consegue encher cerca de 40% da arena por partida. O Beira-Mar, que joga as partidas da Segunda Divisão portuguesa no estádio de Aveiro, completa por volta de 5% dos 30 mil lugares do estádio municipal. Por isso mesmo, a prefeitura já cogita demolir o estádio e vender o terreno para a especulação imobiliária.

Seria interessante que o ministro, tão bem informado a ponto de afirmar que o investimento para receber uma Copa do Mundo já se justifica ter investimento em arena esportiva em locais onde não há um grande consumo do futebol, pensasse no que será dos nove estádios programados para o Mundial de 2014 e que não são da iniciativa privada.

Lá em 2019, aposto que Maracanã e Mineirão ainda estarão com as contas em dia, sendo exaltados como exemplos de como a Copa ajudou a melhorar ainda mais o país do futebol. As outras sete formidáveis arenas, se continuarem pensando apenas no Mundial tupiniquim, estarão desesperadas para que alguma empresa compre o espaço e o transforme num shopping.

E isso que nem estamos falando aqui do fato de que estamos a apenas quatro anos da Copa de 2014 e simplesmente nenhuma obra teve início. Não de estádios. Mas de infraestrutura, algo que é muito mais importante para a população e, aí sim, justifica os gastos.

Em tempos de pré-Copa do Mundo brasileira, seria interessante que o digníssimo ministro do Esporte, Orlando Silva Jr., passasse a ler o noticiário de Portugal.

Cinco anos e meio após a Eurocopa que revolucionou alguns velhos estádios portugueses, dando aparentemente novo fôlego ao futebol na terrinha, a esfera pública está atolada em dívidas e com dificuldade para manter em dia o pagamento da construção dessas magníficas arenas que vivenciaram cerca de um mês de festa.

Por ano são mais de 13 milhões de euros que o governo gasta para manter de pé os elefantes coloridos, porque muitos deles já têm cadeiras multicores para dar a falsa impressão de que o estádio está cheio.

A situação menos pior é o estádio de Braga. O clube, que lidera o Campeonato Português, consegue encher cerca de 40% da arena por partida. O Beira-Mar, que joga as partidas da Segunda Divisão portuguesa no estádio de Aveiro, completa por volta de 5% dos 30 mil lugares do estádio municipal. Por isso mesmo, a prefeitura já cogita demolir o estádio e vender o terreno para a especulação imobiliária.

Seria interessante que o ministro, tão bem informado a ponto de afirmar que o investimento para receber uma Copa do Mundo já se justifica ter investimento em arena esportiva em locais onde não há um grande consumo do futebol, pensasse no que será dos nove estádios programados para o Mundial de 2014 e que não são da iniciativa privada.

Lá em 2019, aposto que Maracanã e Mineirão ainda estarão com as contas em dia, sendo exaltados como exemplos de como a Copa ajudou a melhorar ainda mais o país do futebol. As outras sete formidáveis arenas, se continuarem pensando apenas no Mundial tupiniquim, estarão desesperadas para que alguma empresa compre o espaço e o transforme num shopping.

E isso que nem estamos falando aqui do fato de que estamos a apenas quatro anos da Copa de 2014 e simplesmente nenhuma obra teve início. Não de estádios. Mas de infraestrutura, algo que é muito mais importante para a população e, aí sim, justifica os gastos.

Os entraves da Copa, por José Cruz

Esta semana tive a grata surpresa de conhecer o novo Blog do jornalista José Cruz. Lá ele aborda temas do esporte com uma visão política e econômica. Vale a pena acompanhá-lo: blogdocruz.blog.uol.com.br

Aproveito para reproduzir aqui um de seus ótimos textos, publicado hoje (22/08/2009) sob o título “Os entraves da Copa” (disponível em: http://blogdocruz.blog.uol.com.br/arch2009-08-16_2009-08-22.html#2009_08-20_18_27_00-139474431-0).

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Os entraves da Copa

Passada a euforia das cidades vencedoras para receberem jogos da Copa do Mundo de 2014, os problemas entram na ordem do dia. Pior: não há encaminhamento de soluções. Cuiabá, por exemplo, vive um drama: terá que construir hotéis, mas depois da festa do futebol faltará movimentação turística para ocupar a rede. Diante dessa realidade, ninguém se atreve a investir no segmento.

A deputada Thelma de Oliveira (PSDB-MT) está “extremamente angustiada”. E desabafa: “As autoridades do nosso estado sentem insegurança nos rumos da preparação para a Copa. Temos problemas graves a resolver, como saneamento básico. Mas, onde estão os recursos? Já tivemos reuniões com vários ministros e não sentimos firmeza nas suas respostas”.

Foi neste tom que se realizou hoje a quarta audiência pública sobre o s preparativos para a Copa, na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle, na Câmara dos Deputados. O tema da vez foi turismo.

Alerta

Paulo Ratts, deputado do PMDB pelo Rio de Janeiro, alertou que construir hotéis pode provocar um colapso, mais tarde, porque muitas cidades não terão movimento de visitantes que justifique tal investimento.

“Ainda não temos nem os custos dos investimentos que serão realizados pelo governo. Eu estou convencido de que o Brasil não está preparado para receber a Copa”, alertou.

Na prática, o governo federal já garantiu que o BNDES terá linhas de créditos para investimentos, inclusive para a construção e reforma de estádios. Porém, há dúvidas: “Os estados, os municípios ou os clubes envolvidos na empreitada terão condições de honrar os financiamentos”? – indaga Rattes.

O outro lado

A disposição do BNDES de abrir os cofres parece não ser o suficiente. O diretor-executivo da Associação da Indústria de Hotéis, César Gonçalves, lembrou que os juros dos empréstimos são altíssimos e o prazo de carência é pequeno, apenas cinco anos. “O negócio hoteleiro não dá retorno imediato. É preciso aumentar o prazo e reduzir os juros”, sugeriu.

Quem ganhou dinheiro com o Pan? (Parte 1)

O site do Ministério do Esporte publicou em 21/05/2009 o texto Jogos Pan-americanos movimentaram a economia do País, atesta pesquisa da Fipe, de Fabiane Schmidt, em apoio à candidatura do Rio à sede dos Jogos Olímpicos de 2016.

O texto baseia-se em um estudo parcial da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisa Econômica) sobre os fatídicos Jogos Pan-americanos do Rio em 2007.

Segundo o texto, os estudos da Fipe demonstram que para cada R$ 1 milhão investido pela organização dos Jogos (dinheiro público, investido pela União, Estado, Município e CO-Rio), a economia nacional movimentou R$ 1,879 milhão. Concluindo (em tom de vitória) que, apesar de todas as críticas, “os mais de R$ 3,5 bilhões de aporte dos organizadores induziram a iniciativa privada a injetar outros R$ 6,7 bilhões nas cadeias produtivas relacionadas aos Jogos, provocando movimentação total de R$ 10,2 bilhões [R$3,5 bi público + R$6,7 bi privado] na economia brasileira”.

Os números colocados isoladamente parecem ser positivos, mas se comparados com os publicados neste mesmo Blog (post de 26/01/2009 Impacto econômico da Copa), percebemos que o impacto econômico do Pan foi irrelevante se comparado com as Olimpíadas de Barcelona, onde foram investidos 12,4 bilhões de euros em todo projeto olímpico (entre investimentos públicos, privados e o fundo olímpico do COI – diferente do Pan, que só envolveu dinheiro público), obteve-se um impacto econômico de 34 bilhões de euros (movimentando cerca de 2,7 euros pra cada 1 investido).

No mesmo post trouxemos números sobre a Copa da Alemanha 2006, onde, contando apenas o investimento nos estádios, 1,7 bilhão de euros (21% do orçamento para despesas do evento) obteve-se um retorno (gerado apenas pelos torcedores nos estádios, com compra de ingressos, comida, lembranças, etc) de cerca de 6,5 bilhões de euros.

Isso sem contar que os números do Fipe são questionáveis. Enquanto o texto trabalha com um investimento público de “mais de R$ 3,5 bilhões”, o site Maquina do Esporte, (no texto Fipe avalia “lucro” de 58% com Pan-07 também publicado em 21/05/09), lembra que os números do TCU são bem diferentes: “as esferas públicas gastaram cerca de R$ 4,3 bilhões, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), na organização do evento” mas, “o TCU ainda não concluiu a avaliação do rombo. Provavelmente, a soma deve passar da marca de R$ 5 bilhões”.

(Continuaremos a tratar destes números no próximo post).

Sigilo? Ética? Aqui não!

Em mercados organizados, a notícia a seguir poderia levar a uma investigação quanto ao uso indevido de informação privilegiada.

A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) por exemplo tipifica em sua instrução nº 31, artigo 9º, o Dever de guardar sigilo acerca da informação privilegiada: Cumpre aos administradores e acionistas controladores guardar sigilo as informações relativas a ato ou fato relevante às quais tenham acesso privilegiado em razão do cargo ou posição que ocupam, até sua comunicação e divulgação ao mercado.

Mas, no “Mercado da bola“, não há regras, portanto, pode tudo!

Apesar da informação anterior, de que a FIFA decidiria sem a influência da CBF sobre quais seriam as sedes da Copa de 2014, e só informaria sua decisão em 31 de maio e, apenas meses mais tarde, quando já tivesse um escritório da FIFA instalado no Brasil seria anunciadas as cidades da abertura e encerramento da Copa, o site da ESPN Brasil reportou em 19/05/2009 que “CBF muda estreia de Adriano no Fla para anunciar Maracanã como palco final da Copa do Mundo-2014, diz colunista” , referindo-se ao colunista d’O Globo Ancelmo Gois.

(Se até um colunista esportivo já tem essas informações, imaginem os investidores, empreiteiras, patrocinadores…)

Informa o site que: A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) vai alterar a data da partida de estreia de Adriano pelo Flamengo, contra o Atlético-PR, do dia 30 para 31 deste mês para que Ricardo Teixeira possa anunciar com pompa que o Maracanã, local do duelo, será o palco da final da Copa do Mundo de 2014.

Segundo Gois, o presidente da CBF aparecerá para transmitir a informação oficial nos telões posicionados no interior do estádio às 15h30, direto de Nassau, nas Bahamas, e depois da partida, válida pelo Campeonato Brasileiro, haverá uma festa de ‘arromba’ no mesmo local. A principio, o confronto estava marcado para as 18h30 do sábado. Caso a informação se confirme, passará para as 16h.

No mesmo momento em que Teixeira fizer a confirmação, deve acontecer também o anúncio das outras 11 cidades-sedes (já que o Rio de Janeiro estaria contemplado) para o Mundial de 2014, a ser disputado no Brasil.

Isso porque é exatamente nesta data que o Comitê Executivo da Fifa estará reunido para deliberar sobre o assunto. A entidade faria o comunicado entre 19 e 20 de março, mas preferiu postergar sua decisão para dois meses à frente por conta do aumento de 10 para 12 o número de municípios a servirem o torneio.

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No mesmo dia 19/05/2009, o site oficial da CBF divulgou a nota “Presidente da CBF faz esclarecimento sobre notícia publicada no jornal Diário Catarinense” onde afirma-se que:

O presidente Ricardo Teixeira esclarece que não tem procedimento a notícia publicada pelo jornal “Diário Catarinense” em sua edição desta terça-feira, dia 19 de maio, na coluna Cacau Menezes, com o título “O Furo”, segundo a qual Florianópolis está “fora da Copa de 2014”. (…)

(…)Finalizando, o presidente Ricardo Teixeira reafirma que a escolha das 12 cidades-sedes da Copa do Mundo de 2014, a ser feita no dia 31 de maio, em Nassau, é de responsabilidade da FIFA.

Tal nota foi comentada por Juca Kfouri em seu Blog, em post do dia 20/05/2009. Juca disse: Curiosamente, o presidente não desmente a informação dada, igualmente ontem, pelo colunista de “O Globo”, Ancelmo Gois, sempre, aliás, muito bem informado também sobre as coisas da CBF.

Números

01 – Segundo a reportagem de Phydia de Athayde “Aos pés de Teixeira”, publicada na Revista Carta Capital da semana passada (ano XV, nº 535) já mencionada no post anterior, há pouco mais de um ano o Diretor Financeiro do Comitê Organizador da Copa de 2014, Carlos Langoni, apresentou um orçamento preliminar dos custos da Copa, estimando os gastos em cerca de:

4,8 bilhões de dólares (ou 8,3 bilhões de reais na época) em obras de infraestrutura, e;

1,2 bilhão de dólares (ou 2 bilhões de reais) com os estádios.

02 – No post “E quem paga a conta? (Parte 1)“, publicado neste Blog em 04/02/2009, comentamos a estimativa da Fundação Getúlio Vargas. Segundo os cálculos da Fundação (divulgados no mês de janeiro de 2009):

35 bilhões de reais seriam os gastos públicos totais com a Copa (estádios mais infraestrutura).

Naquele post reproduzimos o comentário do jornalista Jânio de Freitas, de que tal valor representaria mais de duas vezes o Orçamento para a educação em 2009 e mais de nove vezes o orçamento para ciência e tecnologia em 2009.

03 – No final do mês de fevereiro de 2009 a Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústria de Base (Abdib) elaborou um estudo de infraestrutura das cidades candidatas, conforme termo de cooperação assinado com a CBF e o Ministério dos Esportes, a fim de auxiliar na escolha das cidades sedes. Neste estudo, estimou-se o seguinte valor:

100 bilhões de reais em obras de infraestrutura.

(Número também divulgado na Revista Carta Capital ano XV, nº 535, acima mencionada).

04 – Em nosso post “Impacto econômico da Copa” de 26/01/2009 comentamos uma entrevista do especialista em Marketing e Gestão Esportiva Amir Somoggi à rádio CBN em 04/01/2009.

Nesta entrevista ele afirma que:

12 bilhões de dólares foi quanto custou a Copa de 2006 à Alemanha;

equivalente a 0,34% do PIB da Alemanha em 2006.

Ainda segundo Somoggi,

1% do PIB brasileiro de 2007 equivaleria a um gasto de cerca de 25,6 bilhões de reais, o que não traria o retorno efetivo do impacto econômico esperado.

– Caso gastemos 1,5% do PIB brasileiro de 2007 com a Copa, seria um gasto de cerca de 38 bilhões de reais.

05 – De volta à Carta Capital: recuperados os gastos de 12 bilhões de dólares (cerca de 5,5 bilhões de euros à época) a Alemanha ainda obteve lucro com a Copa:

135 milhões de euros foi o lucro da Alemanha com a Copa de 2006;

40,8 milhões de euros foi a fatia deste lucro repassada à Fifa.

06 – A posição atual do Governo e de todos os envolvidos na organização da Copa 2014 é não falar sobre números ou valores até a escolha das cidades. Mas a gritante diferença dos R$ 8,3 Bi preliminares para os R$ 100 Bi calculados pela Abdib é, no mínimo, constrangedora.

07 – Conclusões: Os números são confusos e ainda “não-oficiais”, mas os valores apurados são preocupantes: gastar 1,5% do PIB de um ano (R$ 38 Bi) com o evento representaria um rombo extraordinário nas contas públicas. Já era preocupante pensar que a Alemanha gastou apenas 0,34% do PIB de um ano com a Copa e obteve um lucro imediato tão pequeno.

Imaginar que o Brasil gastaria cerca de R$ 100 Bi apenas com infraestrutura (como sugere o estudo da Abdib) tornaria a Copa economicamente inviável para o país. Por mais empregos que gere, por mais que valorize o turismo e o crescimento a longo prazo, por melhor que seja o legado da Copa… Enfim, por mais resultados que traga, ainda assim demoraríamos anos para chegar perto de recuperar os gastos com a Copa.

É de se preocupar. Afinal de contas, alguém vai ter que pagar esta conta…

À sombra do Pan 2007

Em 22/01/2009 site Meio e Mensagem Online publicou a reportagem “Brasil admite falha no marketing do Pan 2007”, assinada por André Lucena, disponíve em:

http://www.meioemensagem.com.br/novomm/br/conteudo_maiusculo/?Brasil_admite_falha_no_marketing_do_Pan_2007,

onde o secretário do Ministério dos Esportes, Ricardo Leyser, que representava o Ministro Orlando Silva no evento Encoesporte (1º Encontro da Cadeia Produtiva do Esporte) lista os principais erros da publicidade oficial dos Jogos Pan-americanos de 2007, disputados no Rio de Janeiro.

Dentre as principais falhas apontadas pelo Secretário estão a falta de investimento na preparação da cidade e de materiais em línguas estrangeiras além de inglês e espanhol.

A venda de produtos e serviços foi outra grande deficiência do evento, segundo ele “Faltaram produtos, pois fomos conservadores. Não geramos muita receita com os produtos comercializados, mas houve uma movimentação muito grande que não foi maior pela nossa deficiência”

Admitir o erro é o começo da solução. Claro que de hoje até 2014 teremos eleições e os responsáveis pela destinação de investimentos públicos e pela preparação do país para o evento devem ser substituídos diversas vezes, mas é reconfortante ver que ao menos alguém que passou pelo Ministério dos Esportes tem uma visão econômica do desporto nacional:

Segundo o secretário do Ministério do Esporte, enquanto o PIB brasileiro registrou um crescimento médio anual de 4% nos últimos anos, os negócios do esporte atingiram um patamar três vezes maior, aumentando 12% ao ano, em média. O setor é responsável por mais de 2% de todas as riquezas geradas pelo País e proporciona cerca de 1,5 milhão de empregos diretos e indiretos por ano.

A sombra do Pan 2007 vai pairar sobre o Ministério dos Esportes por muito tempo. O super-ultra-faturamento dos gastos públicos com jogos (cerca de 800% maiores do que o previsto pelo COB no início da preparação do evento), a falta de licitações, o péssimo legado deixado para a cidade (desde os gastos com a manutenção de arenas e estádios raramente utilizados até os escândalos da conservação e da venda dos apartamentos da Vila do Pan) e as dúvidas do TCU sobre as contas do evento, tudo isso ficou marcado e deve ser lembrado constantemente, em especial durante toda a preparação do país para a Copa.

Cabe agora aos fãs de futebol não esquecer deste “legado” do Pan e buscar informações mais profundas sobre os rumos da organização desta Copa, para que possamos ter um evento que lembraremos por sua qualidade, e não pelas suas contas.

O Secretário Leyser lembrou ainda que além do Mundial de 2014 o Brasil abrigará a Copa das Confederações de 2013, entre outros eventos desportivos. Segundo ele: “Reconstruiremos a imagem do País e teremos uma visibilidade nunca antes alcançada”.

É o mínimo que esperamos…

Impacto econômico da Copa

Ouça: Carlos Eduardo Eboli entrevista o especialista em Marketing e Gestão Esportiva Amir Somoggi na rádio CBN em 04/01/2009 (23m16s).

audio Fifa vai definir as 12 cidades que irão sediar a Copa de 2014

“FIFA vai definir as 12 cidades que irão sediar a Copa de 2014” está disponível no site da Rádio CBN em: http://cbn.globoradio.globo.com/programas/cbn-esportes/2009/01/04/FIFA-VAI-DEFINIR-AS-12-CIDADES-QUE-IRAO-SEDIAR-A-COPA-DE-2014.htm

A entrevista trata da organização do evento e seu legado, discutindo o impacto social e econômico.

Resumo da entrevista:

Somoggi lembra que mais importante do que o evento em si é o seu legado. Ele cita o exemplo dos Jogos Olímpicos de Barcelona 1992. A organização do evento serviu como parte fundamental da recuperação econômica da Espanha, ainda muito afetada pelas crises dos anos 1980, e para reformulação urbana de Barcelona, transformando uma cidade decadente e violenta em um dos centros turísticos da Europa.

Efeito multiplicador dos investimentos:

Em Barcelona foram investidos 12,4 bilhões de euros em todo projeto olímpico (entre investimentos públicos, privados e o fundo olímpico do COI). O impacto econômico desse investimento foi de 34 bilhões de euros. Barcelona ainda tornou-se um dos motores da recuperação econômica da Espanha. Segundo estudo do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a crescente taxa de desemprego em Barcelona caiu entre 1986 e julho de 1992 de 18,4% para 9,6% (contra 15,5% no resto da Espanha).

Estádios:

Na Copa da Alemanha 2006 foram feitos gastos de 1,7 bilhão de euros (21% do orçamento para despesas do evento) apenas com construção e reforma de estádios. O retorno gerado apenas pelos torcedores nos estádios (com compra de ingressos, comida, lembranças, etc) foi de cerca de 6,5 bilhões de euros.

O retorno para os times de futebol profissional também foi grande: em 2004 os 36 times que disputam o campeonato alemão da 1ª e 2ª divisão, geraram um faturamento anual total de 1,28 bilhão de euros. Em 2007 o faturamento dessas mesmas equipes passou a 1,75 bilhão de euros (aumento de 37%). A Alemanha passou de 4ª para 2ª maior força econômica no futebol europeu (atrás apenas da Inglaterra).

Apenas com o rendimento dos estádios, os times passaram de 223 milhões de euros em 2003 para 365 milhões de euros em 2007 (mais de 60% de evolução). Boa parte deste aumento vem de ações na preparação da Copa, que visava o legado que seria deixado para a economia do futebol, de modo que na temporada 2002/2003 apenas 11% dos gastos do torcedor alemão foram voltados para compras além do ingresso (comida, bebida, consumo de produtos do clube, etc) em 2007 esse gasto passou para 24%, isto é, o estádio deixou de ter apenas uma receita (a venda de ingressos) e passou a ser economicamente viável e mais agradável ao torcedor.

O aumento nas receitas não se relaciona com a mera construção ou reforma de estádios, mas sim com a disponibilização de serviços de qualidade, a facilidade de acesso e a segurança. A mera construção de um estádio novo sem qualquer preocupação com a sua integração no ambiente urbano ou com a disponibilização de serviços de qualidade não causa qualquer impacto positivo (a construção do Estádio Engenhão no Rio de Janeiro por exemplo não causou qualquer impacto na economia do futebol brasileiro – apenas nos cofres públicos: orçado em 60 milhões de reais, teve um custo final de 380 milhões de reais).

Brasil:

Segundo os dados da CBF o público anual dos estádios brasileiros não chega a 6 milhões de pessoas. Há espaço para um enorme crescimento deste mercado interno. Conforme análise do próprio Amir Somoggi, as receitas anuais dos estádios brasileiros poderiam passar dos atuais 130 milhões de reais para mais de 330 milhões de reais em cerca de 6 anos (crescimento de 20% ao ano) caso os projetos para a Copa visem agregar valor aos estádios, possibilitando a arrecadação com entretenimento e com venda de bens além dos jogos de futebol.

Agregar valor:

Claro que por “agregar valor aos estádios” entendemos que, além de tornar o espaço viável para outros eventos e oferecer serviços, entendemos que os estádios precisam, antes de tudo, de segurança, conforto e higiene. Não acredito que o Estádio do Morumbi em São Paulo, cotado para abrigar o jogo de abertura da Copa de 2014 tenha este tipo de valor:

banheiro_morumbiFoto do banheiro do estádio do Morumbi retirada do estudo dos Estádios do SINAENCO. Encontrado em: http://www.copa2014.org.br/pdf/SP.pdf